Design sem nome (55)
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Os dez princípios (al-Mabadi'a al-ʽashara)

A metodologia tradicional, quanto ao estudo das Ciências do Alcorão, vai nos dizer que o entendimento de uma determinada disciplina requer que o estudante se familiarize com seus dez princípios básicos (al-Mabadi’a al-ʽashara).

No que tange ao estudo do Tasawwuf, nosso mestre o Sahib al-Fayda al-Sheikh al-Islam Ibrahim Niasse disse, em sua obra magna Kashf al-Ilbas que o sufismo (tasawwuf) é uma ciência que possui uma definição (hadd), um assunto (mawdu’), um fundador (wadi), um nome (ism), uma derivação (istimdad), um status legal (hukm), o desenvolvimento questões particulares (masail), uma excelência (fadila), uma atribuição (nisba) e um fruto (thamara).

No que tange à sua definição (hadd), ou seja, quanto à realidade dessa Ciência, Sheikh Ibrahim Niasse nos ensina, citando Sidi Ahmad al-Zarruq que:

O Tasawwuf (sufismo) foi definido, descrito e explicado de duas mil maneiras, aproximadamente, todas relacionadas à importância da dedicação genuína a Allah, e cada explicação representa um aspecto dessa ciência, mas Allah sabe melhor.

Por sua vez, Imam al-Junayd foi citado no Īqāz al-Himam, como tendo dito: Isso significa que o Real faz você morrer para si mesmo e viver para Ele” e também: “Isso significa que você existe por Allah, sem qualquer outro apego“.

Outras definições citadas por Sheikh Ibrahim Niasse em Kashf al-Ilbaé que o Tasawwuf (Sufismo): É incorporar cada traço de caráter sublime e fugir de cada característica baixa; e é quando características nobres aparecem entre pessoas distintas em uma época distinta e, também, Isso significa que você não possui nada e nada o possui. E outras colocações por ele citada são: Significa devotar-se a Allah com o que Ele quer. E, ainda: O sufismo não é vestir lã e roupas surradas, ao invés disso, é a excelente conduta e caráter.

Continua, Sheikh Ibrahim Niasse (que Allah esteja satisfeito com ele):

Em Iqaz al-Himam, Ibn Ajiba citou o comentário de Sidi Zarruq sobre a afirmação de nosso Imam Malik: “Se alguém praticar Sufismo (tasawwuf) sem adquirir conhecimento da lei (fiqh), ele se tornará um infiel (zindiq) , enquanto aquele que pratica a lei sem adquirir conhecimento do Sufismo torna-se um moralmente depravado (fasiq). Aquele que combina ambas [as Ciências] está na verdade”. Sidi Zarruq comentou o seguinte: “A infidelidade do primeiro se deve ao fato de ele professar a doutrina do fatalismo (jabr), que acarreta a negação da sabedoria e das decisões judiciais. A depravação moral do segundo se deve ao fato de que sua conduta é desprovida de autêntica dedicação – que impediria a desobediência a Allah –, e da devoção sincera que é exigida em todas as ações. A retidão do terceiro se deve ao fato de sua adesão sincera e constante à Verdade. Portanto, saiba disso: não há existência de Sufismo exceto na Lei, e não há perfeição da Lei sem Sufismo. Isso você deve entender bem”.

Já com relação ao assunto (mawdu) do qual o Tasawwuf (Sufismo) se ocupa, Sheikh Ibrahim Niasse nos diz:

(…) não é nada menos que a Exaltada Essência de Allah. A ciência do sufismo busca um meio de conhecê-Lo, seja por evidências demonstráveis ou testemunhando com os olhos. O primeiro é para os buscadores e o segundo para os que chegaram”; ou seja, aqueles que obtiveram o conhecimento direto, os ‘arifin, e Allah é mais sábio.

(…)

“Também foi dito que o assunto do sufismo é a nafs (alma / ego), o qalb (coração) e o ruh (espírito), pois lida com a purificação e o treinamento deles.”

Temos aí duas definições sobre o tema ou assunto (mawdu) do Sufismo: uma diz que o seu assunto é Allah e a segunda que seu assunto é o ego, o coração e o espírito. Sheikh Ibrahim Niasse explica que ambas definições se aproximam uma vez que aquele que conhece a si mesmo conhece a seu Senhor.

Já, no que diz respeito ao fundador (wadi) do Sufismo, é o próprio Profeta ﷺ, e aqui deve-se ter em conta que ainda que o nome Tasawwuf não tenha vindo dele, sua Realidade e suas práticas vieram. Assim se referiu Sheikh Ibrahim:

Quanto ao fundador do Tasawwuf é o Profeta ﷺ, a quem Allah ensinou por meio da revelação (wahy) e da inspiração (ilham). Primeiro, Ele enviou Jibril (Arcanjo Gabriel) com a Lei Sagrada (al-Shari’ah), e uma vez que esta foi firmemente estabelecida, Ele enviou a Realidade (al-Haqiqa). Então, o Profeta ﷺ favoreceu a alguns de seus companheiros com este [último] conhecimento e  a outros não. Depois disso, o primeiro daqueles que falaram sobre o Sufismo e manifestaram sua realidade foi nosso mestre ‘Ali, (que Allah enobreça sua face). Dele todos os sufis receberam esta Ciência, através das conhecidas cadeias de transmissão de conhecimento (silsila) encontradas em seus livros; a exceção é nosso mestre, nosso patrono, nosso Sheikh e nosso meio de acesso ao nosso Senhor, Abu al-Abbas Ahmad  ibn Muhammad al-Tijani al-Hasani, a quem Allah abençoou em receber [tal Conhecimento] do Profeta ﷺ oralmente, sem a mediação de qualquer um dos shuyukh (plural de sheikh): nossa cadeia de autoridade deriva dele.

Por sua vez, o nome (ism) desta Ciência é Tasawwuf (sufismo) e, por isso, a chamamos de “Ciência do Sufismo” ou al-‘ilm al-tasawwuf. Sheikh Ibrahim Niasse diz, a este respeito:

Os especialistas têm opiniões diferentes sobre as origens do nome “Sufi”. De acordo com o Iqaz al-Himam, Sidi Zarruq afirmou que a sua origem pode ser atribuída a cinco fontes diferentes:

Primeiro de Sufa, o nome do gestor responsável pela Kaaba em Meca: pois, o Sufi está com Allah [apenas] e, tal como o gestor da Kaaba, se afastou (do resto dos assuntos mundanos), e não faz qualquer planejamento [sobre isso].

Em segundo lugar, poderia derivar do delicado sufat al-qafa, o cabelo sedoso na parte de trás do pescoço: porque o sufi é igualmente delicado e (considera a si mesmo) de pouca importância.

Terceiro, pode derivar da palavra sifa, qualidade ou virtude: já que o termo geralmente é aplicado à posse de qualidades dignas de louvor e ao abandono de características dignas de culpa.

Quarto, pode derivar da palavra safa, sinceridade pura. Tal declaração foi autenticada ao ponto de Abu al-Fath al-Basti dizer, a respeito do sufi: ‘As pessoas divergem quanto ao termo sufi devido à ignorância, pois supõem que seja derivado de lã (suf). Eu jamais daria esse nome [sufi] a ninguém, mas somente a um cavalheiro que se comportou com pura sinceridade (safa) e foi requisitado com pura sinceridade (sufiya), de modo que ele passou a ser chamado de sufi”. Esta parece ser a explicação mais plausível, e Allah sabe melhor.

A quinta possibilidade [segundo al-Zarruq] é que ela possa ser derivada de suffa, a varanda ou banco da Mesquita do Profeta ﷺ, que era um abrigo para os (devotos indigentes chamados de) o “povo do banco” (ahl al-suffa). De fato, o sufi combina com a descrição que Allah faz dessas pessoas: “E se contenha com aqueles que clamam ao Senhor de manhã e à noite, buscando o Sua Face (Alcorão, 18:28).

Portanto, esta ampla explicação fornecida por Sheikh al-Zarruq, sobre da origem do nome “Sufi”, é a base para a qual retornam todas as declarações sobre o assunto.

No que tange à fonte (istimdad) do Sufismo (tasawwuf), em Kashf al-Ilbalemos que esta Ciência é extraída do Alcorão, da Sunnah Profética, das inspirações dos justos (ilhamāt) e das iluminações dos gnósticos (futuhat). E acrescenta:

Os sufis incorporaram elementos da ciência da jurisprudência (fiqh) a fim de substanciar a evidente necessidade da lei dentro da Ciência do Sufismo, e al-Ghazali expôs isso em quatro livros de seu Ihia Ulum al-Din: o “Livro dos Ritos de Adoração”, o “Livro das Boas Maneiras”, o “Livro das Causas da Perdição” e o “Livro das Causas da Salvação”.

No que diz respeito ao estatuto legal (hukm), ou seja, se conhecer e seguir o Sufismo é obrigatório ou não para o muçulmano, Sheikh Ibrahim Niasse diz:

Quanto ao seu estatuto legal (hukm), al-Ghazali disse: “É um dever que incumbe a todos os muçulmanos (fard ‘ayn), já que ninguém está livre de faltas ou doenças [do coração], exceto os Profetas”. Al-Shadhili disse: “Se alguém não ficar imerso nesta nossa ciência, morrerá como alguém que persiste nos principais pecados, sem estar ciente de sua condição”.

Quanto às questões (masail) envolvidas, Sheikh Ibrahim Niasse elenca uma série de termos técnicos que aquele que estuda tal Ciência deve conhecer, dentre os quais pode-se citar a Sinceridade (ikhlas), Veracidade (sidq), Confiança (tawakkul), Ascetismo (zuhd), Piedade (wara’), Contentamento (rida), Submissão (taslim), Amor (mahabba), Aniquilação (fana’), e Permanência (baqa’). É igualmente importante entender palavras como Essência (dhat), Atributos (sifat), Capacidade (qudra), Sabedoria (hikma), Espiritualidade (ruhaniyya), o Estado Espiritual (hal), a chegada de insights místicos (warid), a estação espiritual (maqam), dentre outros.

Já no que diz respeito às virtudes desta Ciência, muitos foram os sábios que abordaram o quão excelente ela é. Sheikh Ibrahim Niasse, diz:

Quanto à excelência (fadila) do Sufismo, já foi mencionado que o tema é nada menos que a Exaltada Essência Divina (dhat). [Assim], não há limite para a excelência deste assunto; e, portanto, a Ciência a qual este assunto pertence também não possui limites em sua excelência. Seu primeiro estágio lida com o temos de Allah (khashya), seu estágio intermediário com a conduta adequada para com Ele (mu’amala) e o último [estágio] com o conhecimento Dele (ma’arifa) e completa dedicação a Ele. É por isso que Junayd disse: “Se soubéssemos que existe uma ciência mais nobre sob o céu para discutir com nossos companheiros, certamente eu a teria descoberto rapidamente”. Em seu livro Anwar al-Qulub fī al-‘Ilm al-Mawhub, Sheikh al-Siqilli disse: “Qualquer um que testemunhe essa ciência está incluído na elite. Quem a entende está incluído na elite da elite. Quem a expõe e fala sobre ela é a estrela que nunca pode ser alcançada, o oceano que nunca pode ser drenado”.

Outra pessoa disse:

“Se você vir alguém que foi aberto a acreditar neste Caminho, parabenize-o. Se você vir alguém que foi iluminado com a sua compreensão, alegre-se por causa dele. Se você vir alguém que tenha sido autorizado a falar sobre isso, exalte-o. Mas se você encontrar alguém que está criticando isso, fuja dele como você fugiria de um leão, e se afaste dele completamente. Não há ciência que não possa ser dispensada ocasionalmente, exceto a Ciência do Sufismo: não se pode prescindir dela nem por um único momento.”

Em seguida, deve-se entender qual lugar o Sufismo ocupa com relação às outras Ciências. Sheikh Ibrahim Niasse nos diz que o Sufismo abrange todas as Ciências, sendo delas um pré-requisito “uma vez que não há conhecimento e nenhuma boa ação sem uma dedicação genuína a Allah”. E acrescenta:

Portanto, do ponto de vista da validade jurídica, punição e recompensa, a sinceridade é a condição prévia em todos os casos. Do ponto de vista de sua existência externa, as ciências religiosas podem existir superficialmente sem a [Ciência do] Sufismo, mas tornam-se defeituosas e infames. É por isso que al-Suyuti disse: “Em relação às ciências, o Tasawwuf está tal como a ciência da retórica (balagha) em relação à gramática (nahw): as aperfeiçoa e embeleza”. Segundo Sheykh al-Zarruq: “A relação do sufismo com a religião é a relação do espírito com o corpo, porque representa a excelência espiritual (ihsan), que o mensageiro de Allah explicou a Jibril dizendo: ‘Ihsan significa que você deve adorar Allah como se você O visse’. O sufismo não é nada além disso, uma vez que depende da consciência vigilante de Allah (maraqaba) depois de testemunhá-Lo (mushahada), ou testemunhá-Lo depois da consciência vigilante, onde (além de Allah) nenhuma outra existência ou seres existentes aparecem para aquele que vê.”

Por fim, quanto ao benefício (fa’ida) e ao fruto (thamara) do Tasawwuf,

(…) está em adornar os corações e (na concessão de) conhecimento profundo do Oculto. Ou podemos dizer: seu fruto (thamara) é a generosidade do ser, a serenidade do peito e a boa disposição com toda entidade criada. (Kashf al-Ilbas)

E Allah é o mais Sábio!

Os dez princípios (al-Mabadi'a al-ʽashara)

A metodologia tradicional, quanto ao estudo das Ciências do Alcorão, vai nos dizer que o entendimento de uma determinada disciplina requer que o estudante se familiarize com seus dez princípios básicos (al-Mabadi’a al-ʽashara).

No que tange ao estudo do Tasawwuf, nosso mestre o Sahib al-Fayda al-Sheikh al-Islam Ibrahim Niasse disse, em sua obra magna Kashf al-Ilbas que o sufismo (tasawwuf) é uma ciência que possui uma definição (hadd), um assunto (mawdu’), um fundador (wadi), um nome (ism), uma derivação (istimdad), um status legal (hukm), o desenvolvimento questões particulares (masail), uma excelência (fadila), uma atribuição (nisba) e um fruto (thamara).

No que tange à sua definição (hadd), ou seja, quanto à realidade dessa Ciência, Sheikh Ibrahim Niasse nos ensina, citando Sidi Ahmad al-Zarruq que:

O Tasawwuf (sufismo) foi definido, descrito e explicado de duas mil maneiras, aproximadamente, todas relacionadas à importância da dedicação genuína a Allah, e cada explicação representa um aspecto dessa ciência, mas Allah sabe melhor.

Por sua vez, Imam al-Junayd foi citado no Īqāz al-Himam, como tendo dito: Isso significa que o Real faz você morrer para si mesmo e viver para Ele” e também: “Isso significa que você existe por Allah, sem qualquer outro apego“.

Outras definições citadas por Sheikh Ibrahim Niasse em Kashf al-Ilbaé que o Tasawwuf (Sufismo): É incorporar cada traço de caráter sublime e fugir de cada característica baixa; e é quando características nobres aparecem entre pessoas distintas em uma época distinta e, também, Isso significa que você não possui nada e nada o possui. E outras colocações por ele citada são: Significa devotar-se a Allah com o que Ele quer. E, ainda: O sufismo não é vestir lã e roupas surradas, ao invés disso, é a excelente conduta e caráter.

Continua, Sheikh Ibrahim Niasse (que Allah esteja satisfeito com ele):

Em Iqaz al-Himam, Ibn Ajiba citou o comentário de Sidi Zarruq sobre a afirmação de nosso Imam Malik: “Se alguém praticar Sufismo (tasawwuf) sem adquirir conhecimento da lei (fiqh), ele se tornará um infiel (zindiq) , enquanto aquele que pratica a lei sem adquirir conhecimento do Sufismo torna-se um moralmente depravado (fasiq). Aquele que combina ambas [as Ciências] está na verdade”. Sidi Zarruq comentou o seguinte: “A infidelidade do primeiro se deve ao fato de ele professar a doutrina do fatalismo (jabr), que acarreta a negação da sabedoria e das decisões judiciais. A depravação moral do segundo se deve ao fato de que sua conduta é desprovida de autêntica dedicação – que impediria a desobediência a Allah –, e da devoção sincera que é exigida em todas as ações. A retidão do terceiro se deve ao fato de sua adesão sincera e constante à Verdade. Portanto, saiba disso: não há existência de Sufismo exceto na Lei, e não há perfeição da Lei sem Sufismo. Isso você deve entender bem”.

Já com relação ao assunto (mawdu) do qual o Tasawwuf (Sufismo) se ocupa, Sheikh Ibrahim Niasse nos diz:

(…) não é nada menos que a Exaltada Essência de Allah. A ciência do sufismo busca um meio de conhecê-Lo, seja por evidências demonstráveis ou testemunhando com os olhos. O primeiro é para os buscadores e o segundo para os que chegaram”; ou seja, aqueles que obtiveram o conhecimento direto, os ‘arifin, e Allah é mais sábio.

(…)

“Também foi dito que o assunto do sufismo é a nafs (alma / ego), o qalb (coração) e o ruh (espírito), pois lida com a purificação e o treinamento deles.”

Temos aí duas definições sobre o tema ou assunto (mawdu) do Sufismo: uma diz que o seu assunto é Allah e a segunda que seu assunto é o ego, o coração e o espírito. Sheikh Ibrahim Niasse explica que ambas definições se aproximam uma vez que aquele que conhece a si mesmo conhece a seu Senhor.

Já, no que diz respeito ao fundador (wadi) do Sufismo, é o próprio Profeta ﷺ, e aqui deve-se ter em conta que ainda que o nome Tasawwuf não tenha vindo dele, sua Realidade e suas práticas vieram. Assim se referiu Sheikh Ibrahim:

Quanto ao fundador do Tasawwuf é o Profeta ﷺ, a quem Allah ensinou por meio da revelação (wahy) e da inspiração (ilham). Primeiro, Ele enviou Jibril (Arcanjo Gabriel) com a Lei Sagrada (al-Shari’ah), e uma vez que esta foi firmemente estabelecida, Ele enviou a Realidade (al-Haqiqa). Então, o Profeta ﷺ favoreceu a alguns de seus companheiros com este [último] conhecimento e  a outros não. Depois disso, o primeiro daqueles que falaram sobre o Sufismo e manifestaram sua realidade foi nosso mestre ‘Ali, (que Allah enobreça sua face). Dele todos os sufis receberam esta Ciência, através das conhecidas cadeias de transmissão de conhecimento (silsila) encontradas em seus livros; a exceção é nosso mestre, nosso patrono, nosso Sheikh e nosso meio de acesso ao nosso Senhor, Abu al-Abbas Ahmad  ibn Muhammad al-Tijani al-Hasani, a quem Allah abençoou em receber [tal Conhecimento] do Profeta ﷺ oralmente, sem a mediação de qualquer um dos shuyukh (plural de sheikh): nossa cadeia de autoridade deriva dele.

Por sua vez, o nome (ism) desta Ciência é Tasawwuf (sufismo) e, por isso, a chamamos de “Ciência do Sufismo” ou al-‘ilm al-tasawwuf. Sheikh Ibrahim Niasse diz, a este respeito:

Os especialistas têm opiniões diferentes sobre as origens do nome “Sufi”. De acordo com o Iqaz al-Himam, Sidi Zarruq afirmou que a sua origem pode ser atribuída a cinco fontes diferentes:

Primeiro de Sufa, o nome do gestor responsável pela Kaaba em Meca: pois, o Sufi está com Allah [apenas] e, tal como o gestor da Kaaba, se afastou (do resto dos assuntos mundanos), e não faz qualquer planejamento [sobre isso].

Em segundo lugar, poderia derivar do delicado sufat al-qafa, o cabelo sedoso na parte de trás do pescoço: porque o sufi é igualmente delicado e (considera a si mesmo) de pouca importância.

Terceiro, pode derivar da palavra sifa, qualidade ou virtude: já que o termo geralmente é aplicado à posse de qualidades dignas de louvor e ao abandono de características dignas de culpa.

Quarto, pode derivar da palavra safa, sinceridade pura. Tal declaração foi autenticada ao ponto de Abu al-Fath al-Basti dizer, a respeito do sufi: ‘As pessoas divergem quanto ao termo sufi devido à ignorância, pois supõem que seja derivado de lã (suf). Eu jamais daria esse nome [sufi] a ninguém, mas somente a um cavalheiro que se comportou com pura sinceridade (safa) e foi requisitado com pura sinceridade (sufiya), de modo que ele passou a ser chamado de sufi”. Esta parece ser a explicação mais plausível, e Allah sabe melhor.

A quinta possibilidade [segundo al-Zarruq] é que ela possa ser derivada de suffa, a varanda ou banco da Mesquita do Profeta ﷺ, que era um abrigo para os (devotos indigentes chamados de) o “povo do banco” (ahl al-suffa). De fato, o sufi combina com a descrição que Allah faz dessas pessoas: “E se contenha com aqueles que clamam ao Senhor de manhã e à noite, buscando o Sua Face (Alcorão, 18:28).

Portanto, esta ampla explicação fornecida por Sheikh al-Zarruq, sobre da origem do nome “Sufi”, é a base para a qual retornam todas as declarações sobre o assunto.

No que tange à fonte (istimdad) do Sufismo (tasawwuf), em Kashf al-Ilbalemos que esta Ciência é extraída do Alcorão, da Sunnah Profética, das inspirações dos justos (ilhamāt) e das iluminações dos gnósticos (futuhat). E acrescenta:

Os sufis incorporaram elementos da ciência da jurisprudência (fiqh) a fim de substanciar a evidente necessidade da lei dentro da Ciência do Sufismo, e al-Ghazali expôs isso em quatro livros de seu Ihia Ulum al-Din: o “Livro dos Ritos de Adoração”, o “Livro das Boas Maneiras”, o “Livro das Causas da Perdição” e o “Livro das Causas da Salvação”.

No que diz respeito ao estatuto legal (hukm), ou seja, se conhecer e seguir o Sufismo é obrigatório ou não para o muçulmano, Sheikh Ibrahim Niasse diz:

Quanto ao seu estatuto legal (hukm), al-Ghazali disse: “É um dever que incumbe a todos os muçulmanos (fard ‘ayn), já que ninguém está livre de faltas ou doenças [do coração], exceto os Profetas”. Al-Shadhili disse: “Se alguém não ficar imerso nesta nossa ciência, morrerá como alguém que persiste nos principais pecados, sem estar ciente de sua condição”.

Quanto às questões (masail) envolvidas, Sheikh Ibrahim Niasse elenca uma série de termos técnicos que aquele que estuda tal Ciência deve conhecer, dentre os quais pode-se citar a Sinceridade (ikhlas), Veracidade (sidq), Confiança (tawakkul), Ascetismo (zuhd), Piedade (wara’), Contentamento (rida), Submissão (taslim), Amor (mahabba), Aniquilação (fana’), e Permanência (baqa’). É igualmente importante entender palavras como Essência (dhat), Atributos (sifat), Capacidade (qudra), Sabedoria (hikma), Espiritualidade (ruhaniyya), o Estado Espiritual (hal), a chegada de insights místicos (warid), a estação espiritual (maqam), dentre outros.

Já no que diz respeito às virtudes desta Ciência, muitos foram os sábios que abordaram o quão excelente ela é. Sheikh Ibrahim Niasse, diz:

Quanto à excelência (fadila) do Sufismo, já foi mencionado que o tema é nada menos que a Exaltada Essência Divina (dhat). [Assim], não há limite para a excelência deste assunto; e, portanto, a Ciência a qual este assunto pertence também não possui limites em sua excelência. Seu primeiro estágio lida com o temos de Allah (khashya), seu estágio intermediário com a conduta adequada para com Ele (mu’amala) e o último [estágio] com o conhecimento Dele (ma’arifa) e completa dedicação a Ele. É por isso que Junayd disse: “Se soubéssemos que existe uma ciência mais nobre sob o céu para discutir com nossos companheiros, certamente eu a teria descoberto rapidamente”. Em seu livro Anwar al-Qulub fī al-‘Ilm al-Mawhub, Sheikh al-Siqilli disse: “Qualquer um que testemunhe essa ciência está incluído na elite. Quem a entende está incluído na elite da elite. Quem a expõe e fala sobre ela é a estrela que nunca pode ser alcançada, o oceano que nunca pode ser drenado”.

Outra pessoa disse:

“Se você vir alguém que foi aberto a acreditar neste Caminho, parabenize-o. Se você vir alguém que foi iluminado com a sua compreensão, alegre-se por causa dele. Se você vir alguém que tenha sido autorizado a falar sobre isso, exalte-o. Mas se você encontrar alguém que está criticando isso, fuja dele como você fugiria de um leão, e se afaste dele completamente. Não há ciência que não possa ser dispensada ocasionalmente, exceto a Ciência do Sufismo: não se pode prescindir dela nem por um único momento.”

Em seguida, deve-se entender qual lugar o Sufismo ocupa com relação às outras Ciências. Sheikh Ibrahim Niasse nos diz que o Sufismo abrange todas as Ciências, sendo delas um pré-requisito “uma vez que não há conhecimento e nenhuma boa ação sem uma dedicação genuína a Allah”. E acrescenta:

Portanto, do ponto de vista da validade jurídica, punição e recompensa, a sinceridade é a condição prévia em todos os casos. Do ponto de vista de sua existência externa, as ciências religiosas podem existir superficialmente sem a [Ciência do] Sufismo, mas tornam-se defeituosas e infames. É por isso que al-Suyuti disse: “Em relação às ciências, o Tasawwuf está tal como a ciência da retórica (balagha) em relação à gramática (nahw): as aperfeiçoa e embeleza”. Segundo Sheykh al-Zarruq: “A relação do sufismo com a religião é a relação do espírito com o corpo, porque representa a excelência espiritual (ihsan), que o mensageiro de Allah explicou a Jibril dizendo: ‘Ihsan significa que você deve adorar Allah como se você O visse’. O sufismo não é nada além disso, uma vez que depende da consciência vigilante de Allah (maraqaba) depois de testemunhá-Lo (mushahada), ou testemunhá-Lo depois da consciência vigilante, onde (além de Allah) nenhuma outra existência ou seres existentes aparecem para aquele que vê.”

Por fim, quanto ao benefício (fa’ida) e ao fruto (thamara) do Tasawwuf,

(…) está em adornar os corações e (na concessão de) conhecimento profundo do Oculto. Ou podemos dizer: seu fruto (thamara) é a generosidade do ser, a serenidade do peito e a boa disposição com toda entidade criada. (Kashf al-Ilbas)

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