Disse Sheikh al-Islam Ibrahim Niasse (que Allah esteja satisfeito com ele):

Suponha que alguém dissesse: Se o caminho do Sufismo fosse uma questão prescrita pela Lei Sagrada (Shariah), os Imams independentes (mujtahidi) teriam produzido livros sobre isso. Contudo, não vemos nenhum livro deles sobre esse assunto, absolutamente nenhum. 

Nossa resposta seria:

O fato de que esses Imams não produziram um único livro sobre o assunto se deveu simplesmente à escassez de doenças [do coração] entre as pessoas de sua época e à sua imunidade geral contra a ostentação e a hipocrisia. Mesmo que tal imunidade não se estendesse a todas as pessoas de seu tempo, as exceções eram muito poucas, e qualquer deficiência delas dificilmente era aparente. Sendo assim, a principal preocupação dos estudiosos independentes era espalhar todas as provas jurídicas para as cidades e regiões de fronteira. O mesmo aconteceu com os líderes da geração seguinte (os companheiros do Profeta), bem como com seus sucessores. Essas provas (que eles forneceram) são o assunto de toda ciência, e os princípios das regras de jurisprudência religiosa são conhecidas por eles. Isso era mais importante, portanto, do que criticar algumas pessoas quanto ao movimento do coração, que não compreende a prática ritual da religião. Nenhuma pessoa inteligente jamais diria sobre o Imam Hanifa, por exemplo, ou Imam Malik ou Imam al-Shafi’i ou Imam Ahmad [ibn Hanbal] (que Allah esteja satisfeito com todos eles) que qualquer um deles soubesse ser culpado de ostentação, vaidade, arrogância, inveja ou hipocrisia, e não tenham lutado contra seu eu inferior e o sujeitado a críticas. Se eles estivessem cientes de sua suscetibilidade a essas aflições, teriam dado preferência à cura delas sobre qualquer outra ciência. Portanto, entenda bem isso.

Al-Qushayri (que Allah esteja satisfeito com ele), disse: “Os Sufis originalmente passaram a ser chamados de Sufis quando desejos lascivos e inovações começaram a aparecer, durante a época do Imam Ahmad b. Hanbal. O termo ‘Sufi’ foi então aplicado exclusivamente a qualquer pessoa que aderiu fielmente ao Alcorão e à Sunnah e agiu de acordo com eles”. Ele também disse: “Fomos informados de que o Imam Abu al-Qasim al-Junayd (que Allah esteja satisfeito com ele)costumava dizer: ‘Este nosso caminho espiritual (tariqa) é baseado no Alcorão e na Sunnah. Se alguém não lê o Alcorão e não escreve as tradições proféticas, ele não deve ser imitado neste (caminho)”. No septuagésimo terceiro capítulo de al-Futuhat, Sheikh Muhyialdin (Ibn al-‘Arabi) disse: “Saiba que não temos nenhuma evidência que refute o método dos Sufis, e nenhuma censura que os refute, seja na Lei sagrada ou nos ahadith transmitidos. Aqueles que atacam o Sufismo o fazem por pura ignorância”. Em al-Ibriz, Ibn al-Mubarak citou as palavras de seu Sheikh (al-Dabbagh): Conhecimento oculto (‘ilm al-batin) é como noventa e nove linhas de escrita dourada, enquanto o conhecimento exotérico é como o centésimo linha final em tinta comum. No entanto, se essa linha em tinta preta não estivesse junto com as linhas douradas, elas não teriam nenhum benefício e seu dono não estaria seguro.